Trabalhistas britânicos batem no fundo

O colapso do <em>Labour</em>

O governo de Tony Blair há muito que tinha iniciado a curva descendente na popularidade, mas com a pesada derrota do seu partido nas eleições locais de dia 4, ficou à vista o fim de linha da «terceira via» trabalhista.

Reformas de Blair contestadas nas urnas e no partido

Embora ninguém prognosticasse uma vitória dos trabalhistas, tantos os escândalos e tal o descontentamento com as políticas de direita do governo, poucos terão adivinhado que os resultados das eleições locais inglesas iriam constituir a pior e a mais comprometedora derrota de sempre do primeiro-ministro, Tony Blair.
Ultrapassado a alta velocidade pelo Partido Conservador, que até agora fazia a sua caminhada para o poder em ritmo de cruzeiro, o New Labour de Blair foi muito além das expectativas mais pessimistas, passando para terceira força política, depois de ter sido batido pelo próprio Partido Liberal-Democrata, também em queda.
Face aos 40 por cento e mais 316 eleitos obtidos pelos conservadores (desde 1985 que não elegiam tantos candidatos), aos 27 por cento dos sufrágios e perda de 16 lugares por parte do Partido Liberal-Democrata, os Trabalhistas conseguiram apenas 26 por cento dos votos, perdendo 319 representantes locais.
Particularmente penosas foram as derrotas sofridas em bastiões políticos trabalhistas, inabaláveis durante décadas, que desta vez optaram pela oposição conservadora.
Em Hammersmith e Fulham, um importante município do centro de Londres da capital inglesa, onde os trabalhistas dominavam há 20 anos com uma maioria de 40 por cento, a reviravolta foi de tal ordem que os conservadores conquistaram uma esmagadora maioria de 70 por cento dos votos.
Em Camden, outro bastião trabalhista de Londres desde os anos 70, foi igualmente desbaratado pelo partido de Tony Blair, perdendo-o para o partido Liberal-Democrata.

Ganhar tempo

Em resposta ao desastre eleitoral, Blair apressou-se fazer algumas substituições no seu governo para desviar atenções e acalmar a contestação no interior do partido, esperando assim ganhar algum tempo. Mas de nada lhe valeram as mudanças nos ministérios dos Estrangeiros, Interior e Defesa anunciadas na sexta-feira, dia 5.
No domingo, em declarações à televisão BBC, o peso pesado da sua equipa, tido como o sucessor do primeiro-ministro, aumentava a pressão sobre Blair. O chanceler do Tesouro, Gordon Brown, foi claro ao afirmar que «a grande maioria das pessoas reclama o que o próprio Tony Blair deseja realizar, que é uma transição estável e ordeira».
Pouco antes, noutra estação televisiva, GMTV, Gordon apelara a que Blair estabelecesse rapidamente as etapas da renovação. «Vai haver uma transição para um novo dirigente, qualquer que este seja», disse o ministro considerando «importante que determinemos a forma de conduzir esta renovação a bem».
No mesmo dia, os parlamentares trabalhistas fizeram publicar uma carta-petição no Sunday Telegraph, onde apelavam por sua vez a uma «transição digna, ordeira e eficaz» na liderança do partido.
«Pedimos ao comité executivo nacional do Labour, em consulta com o primeiro-ministro, que submeta até ao fim da sessão parlamentar, um calendário claro e um procedimento para a eleição de um novo líder do Partido Trabalhista».

Salvar a face

Na segunda-feira, dia 8, Tony Blair, recusou a ideia de anunciar antecipadamente uma data para se afastar do poder e garantiu hoje que «combaterá até ao fim» os membros do seu partido que recusam as suas reformas.
Esta foi resposta à rebelião nas hostes trabalhistas, qualificada pelo novo ministro do Interior, John Reid, como uma «tentativa de golpe de Estado planificada e orquestrada pelos opositores às reformas» no seio do Labour. «Os conspiradores não vencerão», garantiu, alertando para os perigos de uma «guerra civil» no seio do partido.
Contudo, dificilmente estas declarações serão suficientes para resolver a profunda cisão no partido, designadamente no grupo parlamentar. Interrogados pela BBC, 52 dos 104 deputados trabalhistas declararam-se dispostos a assinar um texto exigindo que Blair abandone Downing Street no prazo de um ano.
Por outro lado, se é certo que Blair reafirmou a sua intenção de cumprir o essencial do seu terceiro mandato, não negou que irá abandonar o poder a tempo de permitir que o seu sucessor possa ter condições para disputar as eleições de 2009 ou 2010.
Porém, a manter-se a actual impopularidade do governo, dificilmente o partido poderá discutir as próximas eleições como os conservadores. E este é o grande argumento dos seus opositores.

Impopularidade crescente

A popularidade do partido Trabalhista britânico desceu ao nível mais baixo dos últimos 14 anos revela uma sondagem publicada, na terça-feira, no Times.
Apesar da remodelação governamental, os trabalhistas de Tony Blair recolhem apenas 30 por cento das preferências do eleitorado, o resultado mais fraco desde 1992, cinco antes do actual primeiro-ministro conseguir a primeira das três vitorias consecutivas nas legislativas.
Segundo os resultados da sondagem efectuada pelo instituto Populus, os conservadores têm agora a preferências de 38 por cento do eleitorado, surgindo em terceiro lugar os liberais democratas, com 20 por cento.
A percentagem dos britânicos favoráveis à manutenção de Tony Blair à frente do executivo caiu de 42 para 31 por cento entre Abril e Maio, com a maioria a considerar que o principal problema do governo é o próprio primeiro-ministro.
De acordo com o estudo, 65 por cento dos interrogados acham que os trabalhistas perderiam as próximas legislativas se elas se realizassem agora.


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